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A baba Lidiana, 35, em frente a condomínios da avenida Joao Fiusa, uma das mais luxuosas de Ribeirao Preto, onde trabalha |
DE RIBEIRÃO PRETO
O sonho da maioria dos brasileiros de comprar a casa própria foi realizado há dois anos por Lidiana Azevedo Lira, 35, de Ribeirão Preto, no interior paulista.
Mas, ao contrário dos trabalhadores com registro em carteira, Lidiana precisou poupar o próprio salário, porque não recebe FGTS dos patrões.
Cearense de Canindé, trabalha há nove anos como babá em um apartamento de luxo na avenida João Fiúsa, um dos metros quadrados mais caros de Ribeirão e onde mora parte da elite local.
Com salário de R$ 1.200, ela trabalha 12 horas por dia, mas conta ser comum extrapolar a já extensa jornada. Ao menos uma vez por semana, fica até depois das 21h no trabalho, com as duas meninas que cuida, esperando os patrões chegarem em casa.
Uma das cidades mais ricas do Estado, com um PIB que supera o de 13 capitais brasileiras, Ribeirão atrai domésticas de municípios vizinhos. Só de Guariba, por exemplo, dez ônibus lotados transportam todo dia trabalhadores, a maioria faxineiras, para Ribeirão.
Lidiana vive uma exceção curiosa: ao contrário das colegas que se sacolejam nos ônibus, ela pode se dar ao luxo de ir ao pé ao trabalho, por morar perto da patroa.
A contradição aparente logo se explica. Sua casa, ainda não quitada, fica no conjunto habitacional João Rossi. Antes um bairro isolado, o local viu nas últimas décadas se aproximarem novos prédios de alto padrão, impulsionados pela expansão imobiliária, o que colocou ricos e pobres como vizinhos.
Nove anos atrás, quando começou a cuidar da menina mais velha, então um bebê de dois anos, Lidiana ganhava cerca de R$ 480 pelas mesmas 12 horas.
A vontade de deixar o aluguel e ter a própria casa a fez pedir à patroa para acumular o serviço de faxina, uma forma de ter um aumento no salário. "Mas eu pedi para parar. Não dá para cuidar das meninas e da casa."
Por trabalhar tanto, acha que ganha pouco. O salário, aliás, é motivo de discussão constante com a patroa.
Com a PEC das domésticas, que viu pela TV, a babá diz estar feliz de, enfim, receber FGTS. "Eu me sinto mais segura, se acontecer alguma coisa comigo no futuro."
E Lidiana faz planos. Quer terminar de pagar a casa onde mora --"faltam uns oito anos, ainda"-- e, um dia, ter seu próprio negócio.
(JULIANA COISSI)
Portal C4 Notícias
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